REM MT e IFMT vão capacitar indígenas para construir e instalar placas solares

O projeto do Instituto I9Sol, aprovado em edital do Programa REM MT, vai iluminar a autonomia e bem viver de 5 povos indígenas de Mato Grosso. Por meio do Projeto Escola Oficina Solar, 30 lideranças indígenas vão aprender a instalar e fazer a manutenção de placas solares, que vão beneficiar diretamente suas terras indígenas. A oficina é realizada no departamento de eletrônica e eletrotécnica, do Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT).

Presidente do Instituto Yukamaniru de Apoio às Mulheres Indígenas Bakairi, Darlene Taukane aponta que o curso surgiu para atender a enorme necessidade e reivindicação de povos indígenas pelo acesso básico à rede de distribuição de energia.
Dificuldades de comunicação e falta de saneamento básico são as principais queixas dos povos.

“Há muito tempo que os povos que não foram contemplados com a energia vivem almejando a eletricidade, principalmente para a comunicação, para saúde, poder se comunicar com suas famílias, com o mundo, as cidades e aldeias. Então, fomos procurados pela etnia Yawalapiti, que perguntou se a gente conhecia uma instituição que comprava placas solares. Pensamos que era uma oportunidade de levar esse sonho pra outras aldeias”, explica Darlene.

Foi então que a ideia se acendeu, e o Instituto I9sol se uniu ao IFMT e ao Programa REM MT. O objetivo do projeto é capacitar diversas comunidades indígenas de Mato Grosso, para que elas dominem conhecimentos, produzam e mantenham painéis para a geração de energia solar para satisfazer as demandas críticas de suas regiões.

Serão beneficiadas as etnias Bakairi, Xavante, Yawalapiti, Wauja e Guató. Além disso, segundo o diretor do Instituto I9sol de Inovação e Soluções e Sustentabilidade, Villi Seilert, a ideia é que no futuro eles se beneficiem da geração fotovoltaica.
“Nossa ideia é que eles cheguem a ser técnicos em manutenção, mas também proprietários de cooperativas de geração de energia para participar desta grande oportunidade que o Brasil está entrando agora, com a geração distribuída e geração compartilhada, que a legislação permite para qualquer pessoa no país”, pontua Villi.

Ainda segundo Villi, eles têm muito a ganhar, já que hoje 1 quilowatts está na medida de R$ 0,80 a R$ 1,25 em Mato Grosso, dependendo da bandeira e período. Para Marcos Ferreira, Coordenador do Subprograma Território Indígenas, o Programa REM MT tem a finalidade de contribuir com o bem viver dos povos indígenas, bem como fomentar projetos inovadores que além de atender necessidades urgentes de aquisições, formam novas capacidades.

“A geração de energia elétrica por meio de painéis fotovoltaicos nas aldeias é um grande avanço. Agora, quando além de gerar energia, os próprios indígenas constroem, instalam e fazem manutenção deste painéis, estamos efetivamente promovendo independência e protagonismo dos povos originários. Este projeto abre um leque de novas oportunidades, de melhoria das condições de vida nas aldeias, formação de profissionais técnicos e até promoção do empreendedorismo em geração de energia limpa para todos os indígenas que participam desta formação. O Programa REM se orgulha em apoiar este projeto”, pontua Marcos.

Ao todo, o REM MT contribuiu com R$949.610,00 para todo o projeto, que inclui a qualificação, logística e instalação dos equipamentos.

Problemas causados pela falta de acesso à energia
A presidente da Organização de Mulheres Indígenas de Mato Grosso (Takiná), Alessandra Guató, relata os problemas que sua aldeia enfrenta por não ter acesso adequado à distribuição de energia. A falta de eletricidade afeta no funcionamento básico da saúde e educação da comunidade.

“Mesmo morando no Pantanal, isso é muito importante, porque meu povo não se organiza em aldeias nucleares, são pequenos aterros. Então, esses dois sistemas de bombeamento de água vão contemplar o posto de saúde, que não tem sistema de saneamento na verdade, não tem água encanada. E a gente também vai contemplar a sala anexa, que é da educação”, comenta Alessandra.

O curso também traz autonomia e independência aos indígenas. Idelson Xavante, por exemplo, conta que uma placa solar de uma aldeia próxima a sua estragou e a comunidade teve dificuldade para arrumá-la.
Com a capacitação, eles não vão mais precisar depender de um técnico que vá até a aldeia, na terra indígena Sangradouro, para fazer a manutenção.

“Tem uma aldeia que parou de funcionar a placa solar, e fomos consertar esse problema. Agora a água potável (bombeada do rio) está funcionando bem com a placa solar. Isso é muito importante pra gente, ter saúde”, reflete Idelson.

Por conta da falta de capacitação, placas solares já adquiridas acabavam tendo pouca manutenção. “Essas placas ficavam obsoletas, porque não tinha manutenção, e esse curso dará esse suporte, na limpeza e manutenção. Vai ter alguém que vai cuidar daqui pra frente, antes eles não tinham nenhuma noção sobre o que era o cuidado com a placa solar, e agora vão ter”, pontua Darlene.

Villi aponta que o projeto vai contribuir e muito para o desenvolvimento e empoderamento dessas comunidades.

“A questão da água e saneamento sempre fez parte do processo de desenvolvimento, e a energia tem sido o processo que muda a relação de empoderamento e agregação de qualidade de vida nas comunidades. E no caso das populações indígenas, esse ainda é um problema, um gargalo, por conta das estruturas dos serviços. Então, eles precisam dominar e estão dominando essa tecnologia de produção de energia”, comenta Villi.

Realizada no departamento de eletrônica e eletrotécnica, o diretor do IFMT, Alceu Aparecido Cardoso comenta sobre a importância da instituição ampliar o compartilhamento de conhecimento científico e acadêmico para povos indígenas e comunidades tradicionais, visando a valorização das condições de vida.

“Essa formação demonstra que o IFMT está aberto e pronto para garantir a inclusão de todo cidadão brasileiro, independente da sua raça, sua cor, etnia. Mais importante que isso, é fazer a inclusão daqueles que são hoje subjugados e deixados à mercê, os nossos indígenas, que são merecedores de todos os direitos dessa nação, assim como os quilombolas, ribeirinhos, que precisam ser assistidos”, finaliza Alceu.

Fonte: Gazeta Digital