Dois casos que mudaram os rumos da política mato-grossense e atingiram em cheio a classe política do Estado completaram 8 e 6 anos, respectivamente, essa semana. Trata-se da “Operação Sodoma”, de 2015, e “Operação Malebolge”, de 2017.
A Sodoma foi deflagrada em 15 de setembro de 2015, e cumpriu mandados de prisão contra o ex-governador Silval Barbosa, e seus ex-secretários de Estado Marcel de Cursi e Pedro Nadaf. A prisão seria cinematográfica, já que no dia o ex-governador iria para Assembleia Legislativa (ALMT) depor em uma CPI que estava sendo transmitida ao vivo pela TV Assembleia.
A deflagração ocorreu no período da tarde e poderia prender Silval dentro da Assembleia, fato que não ocorreu porque ele já havia sido alertado de sua prisão por volta das 12h daquele dia. Já De Cursi e Nadaf foram detidos em suas casas e levados para a Delegacia Fazendária de Mato Grosso (Defaz).
Anos mais tarde, em sua colaboração premiada, em conjunto com a família, Silval relatou que recebeu uma mensagem do seu irmão, Antônio Barbosa, por volta das 9h, dizendo que havia algo estranho contra o “mano” na Polícia Civil. Antônio Barbosa havia recebido a informação de um investigador da Polícia Civil, foi até a casa de Silval e o levou para o escritório dos seus advogados. De lá, seguiram para a estrada que dá acesso à cidade de Nossa Senhora de Livramento, enquanto os advogados ficaram em Cuiabá buscando informações.
Já meio-dia, o policial informante enviou uma mensagem pelo aplicativo Telegran, confirmando o mandado de prisão e disse que jogaria o telefone fora. Após a notícia, Silval teria permanecido no Condomínio Belvedere em Cuiabá, na casa de uma sobrinha, enquanto seus advogados ingressava com um habeas corpus no Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), contra a decisão da então juíza Selma Arruda.
Silval só foi preso no dia 17 de setembro, quando se apresentou à Justiça e foi encaminhado para uma cela na sede do Corpo de Bombeiros da capital. Ele passou 21 meses preso do Centro de Custódia da Capital (CCC) e só saiu da cadeia em junho de 2017.
João Vieira/Chico Ferreira
Silval Barbosa, Pedro Nadaf, Marcel De Cursi e Chico Lima foram acusados de integrar esquema criminoso
Sodoma
A operação foi deflagrada para investigar um esquema de venda de incentivos fiscais para empresários, em troca de propina para o ex-governador e demais agentes públicos. Já a 2ª fase, em março de 2016, teve como base de investigação compra de terrenos em Cuiabá e recebimento de propina através da Consignum – empresa de empréstimo consignado para servidores públicos- e organização criminosa.
Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, César Zílio, Willian Mischur e Karla Cecília de Oliveira Cintra foram presos nesta fase. Ainda 2016 ocorreu a 3ª fase em duas etapas, tendo Silval mais uma vez como alvo, o ex-secretário de Administração, Pedro Elias Domingos, o ex-chefe de gabinete do governador Silval Barbosa, Silvio Cezar Correa. Semanas depois foi cumprido mandado de prisão contra o médico Rodrigo Barbosa, filho do ex-governador.
Em setembro de 2016, ocorreu a 4ª etapa da Sodoma, tendo como foco da investigação a compra irregular de um imóvel no Jardim Liberdade, em Cuiabá, no qual o Estado pagou R$ 31.715 milhões pela desapropriação. No entanto, R$ 15,8 milhões foram revertidos em benefício do grupo. Além do ex-governador e seus ex-secretários, o empresário Valdir Piran foi alvo da investigação.
Já em 2018, a 5ª fase da Operação Sodoma é deflagrada. A ação investigou fraudes em licitação, desvio de dinheiro público e pagamento de propinas, atos supostamente realizados pelos representantes da empresa Marmeleiro Auto Posto LTDA e Saga Comércio Serviço Tecnológico e Informática LTDA, em benefício da organização criminosa comandada pelo ex-governador Silval Barbosa.
Valdisio Juliano Viriato, Francisco Anis Faiad, Silval da Cunha Barbosa, Sílvio Cesar Corrêa Araújo, José Jesus Nunes Cordeiro foram alvos. Entre os conduzidos de forma coercitiva para interrogatórios, estão Wilson Luiz Soares, Mario Balbino Lemes Junior, Rafael Yamada Torres e Marcel Souza de Cursi.
Malebolge
Há 6 anos, Mato Grosso amanhecia com a operação policial que gerou os maiores abalos à política do Estado e causou efeitos que duram até hoje. Tratava-se da “Operação Malebolge”, a 12ª fase da Operação Ararath, que desarticulou um grande esquema de crimes financeiros para financiar campanhas eleitorais via caixa 2 e enriquecimento ilícito de políticos, empresários e agentes públicos.
Naquele dia 14 de setembro de 2017, uma quinta-feira, 270 policiais federais e membros do Ministério Público Federal (MPF) “visitavam” 64 endereços, entre eles o Tribunal de Contas do Estado (TCE), onde 5 conselheiros foram afastados sob acusação de recebimento de propina.
Após ficarem mais de 2 anos afastados, aos poucos 4 dos 5 conselheiros alvos conseguiram retornar. Aliás, o nome da operação já dizia que o principal alvo seria os conselheiros do TCE. Isso porque “Malebolge” é o oitavo círculo do inferno, conforme a obra “O Inferno de Dante”, do escritor e poeta italiano Dante Alighieri.
O inquérito envolvendo os conselheiros foram arquivados por falta de provas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ano passado.
Imóveis ligados ao então ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP) também eram alvos da operação. Na Assembleia Legislativa, gabinetes de vários deputados estaduais foram revistados. Casas de ex-deputados e do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (MDB), também foram alvos de busca e apreensão. Blairo Maggi conseguiu trancar e arquivar todas as denúncias contra ele por falta de provas e materialidade.
A operação foi deflagrada 40 dias após a homologação da delação premiada do ex-governador Silval Barbosa. Ela foi a responsável pelos vídeos dos deputados recebendo dinheiro que seria “mensalinho” para aprovarem os projetos e contas do governo. Nesta delação aparece o emblemático vídeo de Emanuel Pinheiro enchendo os bolsos do paleto de notas, inclusive deixando cair alguns maços.
Reprodução
Depois desta operação, muitos políticos abandonaram a vida pública, por conta dos desgastes de imagem que sofreram. O prefeito Emanuel Pinheiro é réu na Justiça Federal há 3 anos por conta da delação do ex-governador. Todos os envolvidos e citados por Silval Barbosa negam as acusações
Fonte: Gazeta Digital