Pensar que beber café faz mal para o coração é parte do senso comum, mas isso não precisa ser necessariamente verdade. Três novos estudos investigaram a relação do cafezinho de todos os dias com doenças cardiovasculares. Curiosamente, a conclusão é a inversa da esperada: beber de duas a três xícaras por dia está associada a um menor risco dessas doenças.
Para chegarem a esta descoberta, os pesquisadores usaram o banco de dados UK BioBank, que preserva informações sobre a saúde de mais de meio milhão de pessoas acompanhadas por pelo menos 10 anos. Dessa forma, foi possível comparar os efeitos de variados níveis de consumo de café e a relação do hábito com doenças.
Em comum, as novas pesquisas sobre os benefícios do café para uma vida saudável foram lideradas por Peter M. Kistler, cardiologista e professor da Universidade de Melbourne, na Austrália. Além disso, foram apresentadas no American College of Cardiology’s Annual Scientific Session & Expo 2022. Em breve, devem ser publicados em uma revista científica e passarão por revisão de pares.
Aviso importante: apesar dos possíveis benefícios do consumo de cafeína, Kistler explica que as pessoas não devem aumentar a ingestão de café, principalmente se isso as deixa ansiosas ou desconfortáveis. Em caso de dúvidas, é importante consultar um médico.
Café pode causar doença cardiovascular?
No primeiro estudo, o grupo de pesquisadores examinou se o consumo de café pode desempenhar algum papel no desenvolvimento de uma doença cardiovascular ou de acidente vascular cerebral (AVC). Para isso, usaram dados de 382 mil pessoas, sem nenhuma condição do tipo conhecida, coletados por cerca de 10 anos.
Na verdade, a descoberta foi o oposto do que se imaginava. Tomar duas a três xícaras de café por dia foi associado a um maior benefício para o coração. Estas pessoas apresentavam um risco 10% a 15% menor de desenvolver doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca, arritmias ou de morte.
Cafeína representa risco para quem já tem doenças?
“Os médicos geralmente têm alguma apreensão sobre pessoas com doenças cardiovasculares conhecidas ou arritmias continuarem a beber café, então eles geralmente erram por precaução e os aconselham a parar de beber completamente devido ao medo de que isso possa desencadear ritmos cardíacos perigosos”, explicou o cardiologista, em comunicado.
No entanto, o segundo estudo apontou que essa relação também não é capaz de se sustentar. Ao analisar dados de 34 mil pessoas que apresentavam alguma forma de doença cardiovascular, também foi possível observar os benefícios da cafeína.
Tomar de duas a três xícaras por dia estava associado a menores chances de morrer em comparação com quem não tomava nenhuma. Entre as que tinham arritmia (24 mil), beber café foi associado a um menor risco de morte.
Café instantâneo ou moído? Com cafeína ou sem?
Por fim, o último estudo analisou se existia alguma diferença na relação entre café e doenças cardiovasculares, dependendo se o café instantâneo ou moído e cafeinado ou descafeinado. Aqui, não foram observadas diferenças significativas, exceto pelo descafeinado.
Segundo os autores, o café descafeinado não proporcionou os efeitos positivos da bebida contra a arritmia, por exemplo. Do outro lado, também foi capaz de reduzir o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Após as novas descobertas, os cientistas quem entender quais as limitações dos dados obtidos. Para isso, planejam, no futuro, ensaios randomizados para validar os benefícios da cafeína na prevenção de doenças cardiovasculares.
Fonte: American College of Cardiology | Fidel Forato/CanalTech