‘Terror’ dos times brasileiros, altas altitudes diminuem o oxigênio do ar e dificultam os jogadores

Palmeiras e Flamengo iniciam suas jornadas na Copa Libertadores nesta quarta-feira (5) contra o Bolívar (Bolívia) e Aucas (Equador), e além do jogo em si, os brasileiros terão outra dificuldade: a altitude.

O Alviverde vai jogar no Estádio Hernando Siles, em La Paz. A capital boliviana está situada em uma altitude de 3.600 metros acima do nível do mar. O Rubro Negro, no Estádio Gonzalo Pozo Ripalda, em quito, com uma altitude de 2.850 metros.
Além dos dois times, Corinthians e Fluminense terão que jogar nas condições adversas, com altitudes que passam dos 2.000 metros.

Historicamente, jogar em cidades em que a elevação vertical é muito acima do nível do mar ainda é uma pedra no sapato para os clubes brasileiros, que, muitas vezes, são superados pelo dono da casa, acostumados com as condições atmosféricas do lugar.

Em um caso marcante, Anderson, atacante do Internacional, jogou apenas 30 minutos de jogo, contra o The Strongest, em um jogo da Libertadores de 2015, e pediu substituição, por não suportar a altitude e apresentar dificuldades para respirar. Na partida, o time gaúcho perdeu por 3 a 1.

“Parecia que ia morrer, essa é a verdade. Quando o avião chegou em La Paz (a cidade fica a 3,6 mil metros de altitude) eu já comecei a passar mal”, disse o jogador, após a partida.

A partida foi disputada no mesmo estádio em que o Palmeiras vai fazer sua estreia na competição continental nesta quarta.

Por que jogadores sofrem tanto na altitude?

Quanto maior a altitude de um lugar, menor é a presença de oxigênio, tornado o ar mais rarefeito, em que a pressão atmosférica é muito baixa, causando a dificuldade na respiração. Em atletas de alto nível, pelo esforço exigido, a adversidade se torna ainda maior.

“Os jogadores sentem dificuldade respiratória quando joga em lugares em altas atitudes como em La Paz, na Bolívia, porque aproximadamente após 250 metros de altitude você tem uma diminuição da pressão de oxigênio no ar e isso faz com que o organismo tenha que se adaptar a essa condição de falta de oxigênio no ar atmosférico”, explica o médico Leandro Costa, cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Inclusive, a Fifa chegou a proibir partidas internacionais de futebol em locais acima dos 2.500 metros do nível do mar, em 2007, sob alegação de que tais condições distorciam os resultados.

Após protestos e pedidos feitos pela Conmebol, a entidade máxima reviu a decisão no ano seguinte, e suspendeu a proibição. Desde então, apesar da “chiadeira” de times brasileiros, o assunto não é mais pauta de discussões entre os organizadores das competições.

Os efeitos no corpo

Os efeitos de sair da cidade de São Paulo, como no caso do elenco palmeirense, e ir até La Paz, considera a capital mais “alta” do mundo, pode ser explicada pelo Princípio de Le Chatelier.

Segundo o químico francês que deu o nome a explicação, ainda no século 19, “quando se aplica uma força em um sistema em equilíbrio, ele tende a se reajustar procurando diminuir os efeitos desta força”, ou seja, o corpo humano reage.

“A primeira adaptação aguda do indivíduo exposto a altas altitudes é o aumento da frequência respiratória, que serve para compensar a falta de oxigênio na atmosfera. Em um segundo momento, você vai ter alterações complexas, pulmonares, hematológicas e até teciduais frente a esse regime de hipoxemia, que é a diminuição da pressão parcial de oxigênio no sangue”, explica o cardiologista, sobre os efeitos que os atletas e demais pessoas sentem ao visitar tais localidades.

O médico também explica que em um cenário ideal, atletas de alto rendimento devem chegar até 15 dias antes da partida no local para “evitar complicações”, no entanto, com o apertado calendário brasileiro, essa é uma realidade impensável.

Desta forma, o mais recomendado é que o elenco chegue ao local da partida um dia antes da partida, para evitar os efeitos da falta de oxigênio na atmosfera.

 

Reflexos da altitude variam em cada um

Os reflexos da altitude variam em cada atleta, podendo sentir mais ou menos. A adaptação é “individual”, como explica o especialista. No entanto, os “veteranos”, atletas acima dos 30 anos, são mais propícios a sentir os efeitos.

“Com o passar da idade existe um decréscimo do consumo de oxigênio pelos atletas, então isso acontece de forma regular e gradativa e já é sentido nos indivíduos acima de 30 anos, e, principalmente, os acima de 40 anos”, explica Leandro Costa. “Com o passar da idade essa adaptação [às condições de redução de oxigênio disponível] fica mais lenta e mais intensa”, conclui.

Tecnicamente, não há dúvidas de que Palmeiras e Flamengo são superiores ao Bolívar e ao Aucas, no entanto, por conta das condições de jogo, não é possível garantir vitória fácil dos brasileiros, que vão precisar fazer uma boa partida, ter muito fôlego, e caso necessário, cilindros de oxigênio, para bater os rivais da altitude.

Fonte: Gazeta Digital